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RÊ & ALINE

"Texto de Diane Mazzoni" 



Rê e Aline tinham tudo para ser grandes amigas ou mãe e filha ou ainda comparsas, fiéis escudeiras e cúmplices. Pena o autor de Rê Bordosa tê-la “matado” em 1987, e a Aline só ter “nascido” em 1994. Pensando bem, foi até melhor assim, pois não sei o que poderia acontecer se essas duas resolvessem se unir em alguma tirinha da vida... Fato é que a personagem Rê Bordosa de Angeli e a Aline de Adão Iturrusgarai têm, cada uma a sua maneira, muito (“porraloquismo”) em comum...





Rê Bordosa pode ser considerada a personagem mais amada de Angeli (e olha que o cara tem outros personagens incríveis como Bob Cuspe, Wood & Stock e os Skrotinhos). Sua estréia aconteceu no dia 04 de abril de 1984 no Jornal Folha de São Paulo e logo nas primeiras tiras já se mostrava uma “junky” da pior qualidade. Sempre em sua banheira, curtindo uma ressaca daquelas e se punindo moralmente pelo que ela (vagamente) se lembrava ter feito na noite anterior, ou no balcão do bar tomando algumas doses e procurando por sexo fácil e sem compromisso com o primeiro que aparecer pela frente ou (em última hipótese) com o próprio garçom, Rê Bordosa é um retrato (bem caricato) da mulher “pós-feminista” da época, que se entrega aos prazeres da vida, preza a total liberdade sexual, se embriaga e corre a galopes do casamento e dos afazeres domésticos. Depois de muitas peripécias sexuais e alcoólicas, o autor decide “assassinar” sua personagem (talvez para poder se livrar dela e partir para outras criações) e o próprio Angeli surge nas tiras para matá-la, mas Rê Bordosa parece ter sete vidas e consegue escapar de todas as tentativas de assassinato, indo parar mais uma vez no balcão do bar com seu garçom Juvenal, que acaba propondo a ela se casar com ele para ter um pouco de sossego na vida. Presa nas amarras do casamento, sem poder beber ou fazer sexo com outras pessoas, Rê Bordosa acaba explodindo no sofá e morrendo no ano de 1987.


Já a personagem Aline de Adão Iturrusgarai, não teme tanto assim o casamento, desde que seja um casamento à moda dela. Aline mora junto com seus dois namorados Otto e Pedro, que vivem “subindo nas paredes” por ela e possui um amante e um sub amante (que serve para trair o amante). Como se vê, assim como Rê Bordosa, a moderninha Aline é outra partidária da liberdade sexual feminina, apesar de ser um pouco menos “beberrona” e da “night” como a Rê. Por enquanto o autor diz ter encerrado sua fase “Aline” que durou quase duas décadas (1994 – 2010), mas ele não a matou, o que pode sugerir que ela reapareça por aí.



Apesar de Rê Bordosa e Aline não terem tido a oportunidade de se encontrem, seus autores Angeli e Adão Iturrusgarai são muito amigos e até realizam alguns trabalhos juntos, como esse em que os “Skrotinhos” de Angeli fazem uma participação especial em uma das tirinhas da Aline.


Manifesto à Lei de Direitos Autorais

Excelentíssimas Presidenta e Ministra,

Venho através deste documento representar mais de mil profissionais da área de ilustração, que desenvolvem trabalhos de criação artística e intelectual e investem tempo e dinheiro se especializando para criarem imagens que compõem livros didáticos e literários, cartilhas, e as mais diversas peças gráficas. A ilustração vem se tornando cada vez mais o ofício de muitos. Uma profissão que existe há séculos e até hoje não recebe o devido reconhecimento. Para preservar os poucos direitos já adquiridos os profissionais desta área vêem se unindo e lutando por melhorias na profissão.

Nosso maior direito até então conquistado é o “Direito de Uso de Imagem” que se enquadra como “Direitos Autorais”. Um direito que garante que nós, ilustradores, obtenhamos uma parcela ainda que mínima nas edições e reedições de projetos em que estivemos envolvidos e em que empenhamos todo o nosso poder de criação, desenvolvendo um trabalho artístico, intelectual e único. Direito esse que complementa nossa renda e assegura que recebamos por nosso trabalho enquanto este estiver sendo veiculado e gerando lucro para empresas, sejam elas editoras, revistas, jornais e etc.

A ilustração é uma linguagem que possui o poder de se comunicar com todos, despertando inúmeras interpretações e sentidos e estimulando a imaginação e a criatividade. Forma opinião e estimula o leitor, complementando e agregando valor aos textos. Por isso, os profissionais da área de ilustração precisam ser mais bem reconhecidos. A regulamentação da profissão é ainda o nosso principal objetivo e a nossa maior luta. E a manutenção do direito autoral é uma forma de fortalecer a nossa profissão, é conservando os direitos já adquiridos que alcançaremos e conquistaremos nossos maiores objetivos. Simplesmente retirar de nossas mãos esse direito é “pisar” em quem fomenta o mundo cultural e artístico do país, é não se importar com milhões de trabalhadores que dependem dessa profissão para sobreviver.

Lutar pelos nossos direitos autorais é uma maneira de defendermos o que é nosso e de nossos herdeiros, uma forma de garantir que o que foi criado através da nossa capacidade artística e intelectual seja valorizado enquanto estiver sendo usado. É nosso dever lutar para que não seja “jogado fora” tudo que foi produzido durante anos. Se vocês desejam acabar com este direito para unificar e democratizar toda a criação, o que será dos pensadores e criadores uma vez que essa é a sua profissão e precisam receber para isso? Se toda a criação for reutilizada de maneira arbitrária a qualidade despencará e os profissionais sumirão, tornando o Brasil um país pobre de sabedoria e intelectualidade. Precisamos conservar as criações e pensadores de todas as artes.

Neste caso defendo a área da ilustração e os profissionais ilustradores. Veja os livros que vocês compram para si mesmos, para seus filhos, sobrinhos, netos... Pense que em cada traço que ali está, há uma alma criativa por trás, que possibilita que vocês, leitores, entrem no mundo da imaginação e da fantasia. Quantas crianças e analfabetos podem “ler” os livros através apenas de suas imagens. Com certeza esse profissional precisa ser bem recompensado e motivado para continuar realizando seu trabalho com todo empenho possível e, para isso, seus direitos têm que ser “preservados” e não destruídos e descartados.

Atenciosamente,

Bruno Grossi (Begê Ilustrador) & Diane Mazzoni
Editores do Portal do Ilustrador