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Ao ilustrador iniciante II

por Rubens Lima - www.rubenslima.com.br


DICAS PARA EVOLUIR

Seguem aqui algumas dicas que acho interessantes para um início de carreira e para quem quer realmente ser um profissional da área:

• PRÁTICA: Desenhe sempre, a qualquer hora, em qualquer lugar. Observe tudo a sua volta, cenas do cotidiano, pessoas, lugares, edifícios etc. e tente retratá-las à sua maneira. Tenha um bloquinho que seja fácil levar sempre com você. A prática é ótima para ganhar confiança no seu traço e treinar a comunicação de situações reais através do desenho.

• REFERÊNCIAS: Seja humilde. Conheça e pesquise trabalhos de outros ilustradores: ilustradores históricos (nacionais e internacionais), ilustradores contemporâneos e também os novos talentos.

Sempre que folhear uma revista, livro ou jornal, tenha uma visão crítica sobre os trabalhos que observa, ou seja, veja tudo com "olhar de ilustrador" — procure ver o que te agrada nas ilustrações, o traço, o uso das cores, os fundos, a composição (os elementos gráficos e o equilíbrio entre eles) e procure se questionar enquanto analisa.

Por exemplo:

"Como esse ilustrador fez este fundo?";
"Por que esta profissional utilizou este traço externo mais grosso nos personagens?";
“Por que ele desenha as mãos desproporcionais em relação ao corpo?"

E principalmente: ao analisar uma ilustração de um profissional tarimbado, tente achar o que existe na ilustração desse ilustrador e falta nas suas e...corra atrás!!

• EXERCÍCIOS: Recomendo sempre a prática de exercícios simulando a atuação de um profissional, pois permite que se possa treinar as habilidades de se comunicar através do desenho e viver desafios muito próximos aos que um ilustrador vive em seus dias de trabalho.

Um exemplo: selecione algumas matérias de jornais ou revistas que tenham assuntos ou temas que se encaixem com seu estilo e linguagem e tente ilustrá-los (prefira textos que não tenham ilustrações para você não ser influenciado). Escolha, por exemplo, 5 textos diferentes e proponha a você mesmo um prazo para fazer as 5 ilustrações (2 semanas, por exemplo). Ilustradores vivem de prazos e você já vai aprendendo a lidar com eles.

Uma variação: se em vez de ilustrações editoriais, você goste, por exemplo, de ilustrações realistas, uma idéia é escolher uma embalagem de produto (um suco, por exemplo) e, mantendo a estrutura de design do produto (logo, cores etc.) faça a sua versão da ilustração principal (no caso da embalagem de suco, que usamos de exemplo, seria refazer as frutas, o líquido caindo, etc.)

• CURSOS: Bons cursos, apesar de não serem determinantes para o sucesso de ninguém podem abreviar este processo de evolução. Além dos cursos de desenho, artes e expressão artística, não podemos esquecer das ferramentas digitais/softwares, que são muito importantes. Ser autodidata nestes softwares é uma possibilidade, claro — mas, normalmente aprendendo sozinhos acabamos dominando cerca de 50 a 60% do uso do software — enquanto em um bom curso especializado, podemos chegar perto de 90%, tornando o trabalho no dia-a-dia mais eficiente e rápido.

Como já dissemos no texto anterior, apenas habilidade técnica não faz de ninguém um bom ilustrador, por isso é interessante participar sempre de cursos, workshops, palestras que foquem na parte do processo de criação de ilustrações, ou seja, que abordem esta "tradução" de temas e textos em linguagem visual. Cursos que foquem no ilustrador como profissional de comunicação que é.

• NO MERCADO: Seguindo as dicas acima, o próximo passo é juntar, através da prática de desenhos e dos exercícios de ilustração, um número de trabalhos de qualidade e montar um portfólio.

Para montá-lo, não pense em quantidade, pense em qualidade: coloque apenas as ilustrações que realmente são as melhores, ou seja, na dúvida sobre alguma ilustração, não inclua!

Com o conjunto de ilustrações definido, faça um portfólio digital, utilizando os espaços gratuitos que existem em alguns blogs ou fotoblogs. Hoje, muita gente também utiliza as redes sociais para exporem seus trabalhos, é uma outra boa opção.

Outra dica: Para que seu portfólio não se torne uma exposição de arte ou de desenhos, coloque nas legendas sempre o contexto de suas ilustrações (o texto em que se baseou, o objetivo ou a idéia por trás da ilustração).

Mantenha seu portfólio digital sempre atualizado, colocando suas últimas criações e comece a divulgar seu endereço!! Não só para os amigos, mas para quem possa vir a comprar suas ilustrações, claro.

Boa sorte a todos os novos navegantes nesta jornada!!
Espero que as dicas possam ser de alguma utilidade — nos encontraremos, com certeza, pelos caminhos desta carreira atribulada, mas compensadora!

(versão original do texto publicada no antigo site do Estúdio Ilustranet em nov/2006)

Ao ilustrador iniciante I


DESENHO X ILUSTRAÇÃO

Para começar a entender esta profissão, é importante compreender, logo de cara, a diferença entre desenho e ilustração. Então, sem rodeios, vamos dizer logo: desenho não é ilustração.

Hã?! Hein?! O que?! Não é?

Não, não é!

O desenho, na verdade, é a matéria-prima da ilustração.

O desenho tem independência, tem existência própria — pode existir sem um tema, sem um princípio, sem um contexto ou histórico. A ilustração não. Uma ilustração é um desenho firmemente conectado a uma idéia, a um texto, a um conceito. Afinal, a ilustração ilustra alguma coisa, ficando muitas vezes sem sentido longe de seu contexto.

Outra diferença: o desenho é algo muito pessoal.
Podemos desenhar qualquer coisa, a qualquer hora, sem nenhuma orientação externa. Já quando fazemos da ilustração nossa profissão, normalmente temos que ilustrar idéias de outras cabeças (por exemplo: de um jornalista, de um designer, de um publicitário, de um autor de uma crônica etc.). Por isso, um bom ilustrador deve saber compreender a necessidade de outros e, para isso, deve agregar outras habilidades à sua habilidade de desenhar, entre elas a interpretação de textos e uma boa cultura geral — para estar sempre por dentro do assunto a ser ilustrado. Em resumo: O desenhista é criador da mensagem, o ilustrador é mensageiro, ele leva mensagens que não são dele.

Quanto a foco, ilustração e desenho também são diferentes.
Um desenho eu posso fazer para mim mesmo. Assim como um artista plástico, eu não preciso necessariamente agradar a um público, nem me esforçar para fazer alguém compreender o que desenhei — o desenhista/artista teoricamente precisa satisfazer apenas a si mesmo. Já um ilustrador profissional trabalha constantemente tendo um público-alvo em mente: o leitor do jornal ou os pequenos leitores de um livro infantil ou o público que vai ler aquele anúncio que ele irá ilustrar para uma agência. De forma geral, a compreensão da mensagem que a ilustração passa ao público deve ser sua primeira preocupação.

Como o foco é a mensagem ao público — e não suas intenções pessoais — o ilustrador nem sempre desenha o que quer, mas sim o que precisa para tocar, destacar emocionar, ensinar, orientar ou cativar determinado público-alvo — e muitos profissionais, que não entendem a diferença entre ilustrador e artista/desenhista, acabam se sentindo frustrados com isso. Ficam sempre com a sensação de que sua criatividade está sendo tolhida — e trabalham sempre com um gosto amargo na boca.

Por todas estas razões é que sempre defendo que um bom desenhista não é necessariamente um bom ilustrador — enquanto, muitas vezes, desenhistas aparentemente toscos acabam, pela criatividade e expressividade com que abordam cada tema, por se transformarem em grandes ilustradores.

(versão original do texto publicada no antigo site do Estúdio Ilustranet em nov/2006)